sexta-feira, 8 de novembro de 2019

SOBRE "O AMANTE DAS AMAZONAS"

Segundo a Dra. Neide Gondim, da Universidade do Amazonas, é o melhor romance sobre o Amazonas. A Dra Eliane Bueno Ribeiro, da Universidade de Rennes, o define como “uma obra-prima”. A Dr. Neuza Machado, da Universidade do Rio de Janeiro, escreveu dois volumes sobre este livro que foi objeto de uma tese de mestrado na Universidade do Pará, publicada pela EDUA e encontrada on-line, pela professora Lucilene Gomes Lima. TRADUZIDO PARA O ESPANHOL Leia em baixo:

SOBRE "O AMANTE DAS AMAZONAS"


"Um excelente romance. Apaixonante" Dra Eliana Bueno Ribeiro Vianna Santos (Pos-Doutorado Université de Paris III)

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

LEILA MICCOLIS SOBRE O NOVO MANUAL

Leila Míccolis AMO DE PAIXÃO este livro (você sabe o quanto Rogel Samuel), estudei por ele para meu exame de Mestrado na UFRJ em Teoria Literária. Pouquíssimas vagas na época, 3... e entrei em segundo. Este livro é o máximo,. Tanto que já está em sexta edição!

sexta-feira, 31 de maio de 2019

AS AMANTES NO PERÍODO DA EXTRAÇÃO DO LÁTEX NA AMAZÔNIA


AS AMANTES NO PERÍODO DA EXTRAÇÃO DO LÁTEX NA AMAZÔNIA


Francisca de Lourdes Souza Louro
UEA, Letras (Português).
lourdeslouro@yahoo.com.br. Manaus, Amazonas
Auricléa Oliveira das Neves
Academia de Letras do Brasil – Amazonas.
auricleaneves@gmail.com. Manaus, Amazonas

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RESUMO

No romance “O amante das Amazonas”, Rogel Samuel se utiliza dos objetos de realidade motivadora para efetivar sua meditação poética. A matéria deste estudo tem, como suporte teórico, a abrangência da visão do semioticista, crítico e escritor Umberto Eco, em que se perceberá, por sua linha de pesquisa, as complexas interações que se validarão por incursões do referido teórico.  Assim sendo, algumas figuras femininas, serão escolhidas como matéria de análise para observar como o autor as desenhou em seu romance e como as efetivou na atividade de representação amazônica. O que se insinua aqui é a noção de que O amante das Amazonas é, ainda, um documento de trabalho para o escritor que passou longos dez anos a pesquisar e publicar para dar ao público, o direito de conhecer a época do látex, onde se desenvolve a narrativa. Olhar-se-á a ambivalência recorrente no texto pelas vias de acesso sob a perspectiva semiótica da palavra – amante – utilizada na capa da obra. Espera-se que este estudo atenda, não só a comunidade acadêmica que queira buscar por estudos semióticos, mas também, o público interessado nas narrativas de Rogel Samuel voltadas para a significação da mulher no período da extração da borracha na Amazônia.

Palavras- chave: semiótica; hermenêutica, romance; amante; leitor; figura feminina



INTRODUÇÃO
A arte é tudo – tudo o resto é nada. Só um livro é capaz de fazer a eternidade de um povo.
(Eça de Queirós)

A prática da escrita pode alterar a memória ao colocar em evidência os conflitos existentes do passado neste presente. Pode também, colocar em dúvida verdades relatadas pela observação de um narrador vindo de fora, e lança seu olhar por sobre a sociedade e conta, por sua experiência, a vida de todos nós. Escrever é sempre pôr-se na pele de um outro, isso é mais instigante para a natureza da Literatura, o autor se esconde na máscara do outro e diz ora absurdos, ora excitações, ora hesitações, mas sempre representações. Os paradoxos internos, diante da literatura, dilui, mas também, notabiliza alguém, seja um personagem, seja o narrador, seja o autor. Aqui escolhemos notabilizar algumas mulheres que foram manipuladas sexualmente por um homem, cuja aparência é de uma fortaleza humana, o Mulo Paxiúba um Ajuricaba do avesso. O escritor deu vida a todos os personagens e consagrou alguns com dose excessiva por este copular com as mulheres que ele escolhia. Para usar? Sim, não havia amor nesse homem que é da terra, é movido pelo instinto animal. Mas, aqui neste cenário Amazônico, escolhemos apresentar três figuras femininas e duas desgraçadamente padecem nas mãos de Paxiúba.
Qualquer reflexão preambular sobre literatura e a sua existência enfrenta, de início, a questão de saber se é possível (ou até que ponto é possível) estabelecer as fronteiras que delimitam o fenômeno literário: ou, por outras palavras, indagar o que cabe e o que não cabe dentro do campo literário. Diante do que sugere a reflexão proposta neste estudo, pode-se afirmar que, Rogel Samuel, em O amante das amazonas(2005), traz a História da sociedade da época, de gente que experienciou a extração do látex, e de como os mesmos viviam nos Seringais da Amazônia. As personagens fazem parte da cultura de desenvolvimento social e financeiro da cidade que viveu as agruras da boa e da má sorte.  Por esses, a vida se redesenha em papéis trágicos e desenhar as figuras femininas é legitimar o testemunho de informação que elas dão como existência para que se possa apreciar o habitante regional da realidade ficcional.
Escolheu-se este texto, construído por quatro mãos, para dar a certeza ao leitordeque se objetivou ampliar oportunidade em conhecimentos quando se utilizou duas correntes de pensamentos, Semiótica e Hermenêutica Filosófica. Esta investigação recaisobre a escolha detrês mulheres no romance de Rogel Samuel por entender que o leitor/a, possa se reconhecer em uma determinada personagem tomada em uma determinada intriga (RICCOEUR,2006 :115). 
 Pretendeu-se demonstrar a notoriedade de cada umapersonagem na filosofia da arte literária deste tempo de caos social que os seringais enfrentaram e, institucionalmente,elas são as distintas representantes da Amazônia. Neste sentido, é possível surpreender o leitor pela dimensão histórica dos quadros que o autor registra tais personagens. Elas são diversas e por essa diversidade, tentar-se-á entender a virulência de como eram tratadas, cujotexto acentuacom solidez a capacidade histórica a que o escritor se refere nas recorrentes reminiscências temporais.

É preciso acrescentar que essa apropriação desse tempo por essas personagens pode assumir variedade de formas, desde a armadilha da imitação servil, como aconteceu com Emma Bovary, passando por todos os estados da fascinação, da suspeição, da rejeição, até a busca do justo distanciamento em relação a modelos de identificação e a seu poder de sedução. Aprender a narra-se poderia ser o benefício dessa apropriação crítica. Aprender a narra-se é também aprender a narra a si mesmo de outro modo (RICOEUR,2006:115)


O poder narrar-se é pôr uma problemática inteira em movimento sob a perspectiva semiótica do termo identidade narrativa. Por essas três mulheres as leituras têm perspectiva de pôr em evidência a palavra “amante”. Paul Ricoeur iluminará com sua hermenêutica filosófica as verdades nas confissões dos relatos da vida no passado e Umberto Eco nos adverte que existe “semiótica da comunicação e semiótica da significação”.O estudo abordado parte da pesquisa bibliográfica com olhar na perspectiva semiótica de Umberto Eco observando a ambivalência recorrente no texto pelas vias de acesso da palavra – amante – utilizada na capa da obra e a confissão do mal e do desejo de uma vida boa pelo viés filosófico em Paul Ricoeur.
A obra é perfeita no intuito de confundir o real com o ilusório nesse universo literário, capaz de sensibilizar e deixar atônito o leitor pouco avisado. “O trabalho estético requer complexidade e, no rastro de produzir força de simular e criar uma realidade como maneira objetiva de captar o real” (BRAITH, 2017:5), a autora, por meio de seu narrador, mostra personagens individualizadas e ironizadas pelas caracterizadoras cisões dos abusos bem como pela motivação material de representação. Em Seis passeios pelo bosque da ficção (1997)Ecomenciona o “leitor como um ingredientede fundamental importância, não só do processo de contar uma história, como também da própria história” (p:07).
Com base na assertiva e incomodada de como o autor redesenha a amante mulher nesse romance, volta-se o olhar para observar a questão, no entanto, sem enquadrar a perspectiva de feminismoque atualmente anda em voga neste “post-modernismo[1]”. “Cabe, portanto, observar as regras do jogo, e o leitor – modelo é o alguém que está ansioso para jogar” (ECO,1997:16). Nesse recurso da representação pela linguagem, as mulheres surgem “complexas”. É guerreira,  na representação de “Maria Caxinauá”, que entra criança na casa de Pierre Bataillon para cuidar de outra criança, Zequinha, e acaba “amante” da mesma criança, quando ambos cresceram.

Pierre Bataillon chegou em 1876 e estabeleceu o seu domínio com facilidade, sobre as terras dos Caxinauás da Amazônia”[...] Destruiu a cultura Caxinauá pelo progresso, novo deus que era, e a quem eles se submeteram sem reclamos, quase alegres. A partir de então as mulheres e os rapazes Caxinauás se transformaram em objetos do Seringal, pela força da tropa de guerra do Coronel (SAMUEL,2005:25).

A fim de compreender melhor o texto em prosa apresenta-se Foster (2006) que aborda acerca de fantasia textual  com a ideia de que “é sabido que um livro não é real” (p:125), que todos os romances contam uma história, que “contêm personagens e têm enredos ou fragmentos de enredos, de modo que podemos aplicar a eles o aparato que se ajusta ao leitor” sempre a espera que ele seja natural (p:124). Nesta história, quase se vislumbra um pedido em Rogel Samuel para que sejam aceitos certosfatos deste livro como relato real, especialmente o que envolve as figuras das mulheres.  Este romance é dramático pela sorte na vida das personagens, mas, pela linguagem de Samuel, vemos o sofrimento virar, com ironia, a Comédia Humana fugida de Balzac e cair no colo dos leitores de Samuel. O crítico avalia o texto do autor e pondera a lógica do seu argumento e estuda o reflexo que esta linguagem está sendo produzida para ficar no limiar da mesma auto-relexividade  da criação estética. Aqui, propomos pôr em tese a existência das mulheres no seringal da Amazônia.

Maria Caxinauá: não é Eva, mas é a primeira mulher do texto

Pois a Caxinauá é a vingança acumulada, petrificada. Observada a distância, era a concentração do Òdio. De perto, era o Medo, o incontrolável Pavor, olhos bem abertos (SAMUEL:68).
A Caxinauá olhou aquelas margens. Ali viveram seus antepassados. [...] Súbito pressentiu o perigo. De repente sentiu que de dentro, do fundo da mata, se aproximava algo ameaçador. Ela sabia que aquilo vinha muito rápido – nada o tinha denunciado, mas ela rapidamente saiu de dentro d’água. Mas era tarde: Foi agarrada por mãos enormes, por enormes braços de um ser monstruoso, por trás, e ela sentiu o cheiro de cumaru e o forte calor daquele corpo e soube de imediato de quem se tratava, que seria ela mais uma das vítimas de Paxiúba, o Mulo. Ficou imóvel. Deixou-se levar. Sabia o que ele queria. O corpo do monstro estremecia, de prazer, era quente, o desejo roçava pelas costas da índia, arfando, como cão. (SAMUEL:103) Ela viu que ele não a deixaria viva, que ele sabia que ela ia vingar-se, se escapasse viva. Mas Paxiúba agora tentava por outros modos, rolava mesmo, urrando e masturbando-se como touro furioso, poupando-a. Depois que ele desapareceu, misterioso como tinha aparecido, ela caiu dentro da água para limpar de si aquela gosma peçonhenta (SAMUEL:104)

Há de se dizer que “o artesão de palavras não produz coisas, mas somente-coisas, inventa o como-se” (RICOEUR, 1994:76), por assim ser, a referência que ora tem Maria Caxinauácomo modelo e a cópia do que se pretende aqui abordar: a questão da mulher nessa conexão lógica do verossímil em ser destacada das exigências culturais do aceitável papel de servir de “amante” que Samuel apresenta ao leitor.Ela caiu dentro da água para limpar de si aquela gosma peçonhenta Por ela se mostra a inesgotável fonte de violência recebida na surpresa do encontro surpresa, com potencial trágico e o mais denso estupro,pois ele tentava por outros modos, rolava mesmo, urrando e masturbando-se como touro furioso, poupando-ade deixar marcas do ato completo, e de forma mais significativa sobre o ser humano.Paxiúba, com a atitude de não penetrar Caxinauá, cavou uma hesitação na ação não realizada, incompleta, plantou uma dúvida no leitor: foi por medo?, foi por saber da violência que ela é capaz?. Isso gerou sobre Paxiúba o reconhecimento de seu caráter dramático, perda de autonomia, uma inquietação que não se consegue esgotar já que ele está plantado sob a égide do homem violento e que tudo consegue. Ainda resta o uso do verbo -“tentava”por outros modos - se insurge no verbo a própria explicação por razão causal, dificuldade sobre um fundo de acontecimentos. Na análise semiótica dos acontecimentos, tem-se uma mulher forte, livre, consciente de suas ações que, deliberadamente, saiu do convívio social, contrariando a dinâmica do seu povo, conforme o narrador “é impossível para um Caxinauá viver fora da tribo. Eles constituem um povo simbiótico, um organismo só, vivo, único. Não são seres individuais” (SAMUEL:68).
Maria Caxinauá é uma personagem com suscetíveis imputações por parte de outras personagens, cujas ações e reações são incompatíveis com uma criança de seis ou sete anos:
Em 94 meu filho ganhou a ama Maria Caxinauá, uma índia um pouco mais velha do que ele, que na época tinha quatro anos. Cresceram juntos. Quando menino fazia alguma travessura, a ama era castigada em seu lugar. Ifigênia batia duro mas a índia não gemia, não chorava. Parecia não sentir dor. Não confio em índio. São traiçoeiros, cruéis, vingativos, capazes de vingança, mesmo depois de anos. Mas Ifigênia não me ouvia, não acreditava.[...] (SAMUEL:66).

Tem esse ligeiro relato do caráter de Caxinauá. Ora, a imaginação, tomada em si mesma, está situada na escala do passado, mas que se afigura os modos de dar conhecimento da natureza da mulherCaxinauá. Essa declaração é ainda mais notável porque, Samuel faz uma magnifica definição do tempo passado como continuação da existência e contata-se que a mulher persevera na mesma braveza de antes. O corpo humano que foi afetado uma vez por outro corpo reage na mesma presunção da sobrevivência, não enfrenta, não reage. Parecia não sentir dor pelo silencio de “plenitude” ou silêncio de culpado que conduz a um incontornável impasse. O silêncio faculta à personagem um pleno domínio do espaço exterior, a natureza regressiva do ato sexual manifesta-se, pelo contrário, numa dificuldade em progredir no espaço que equivale a uma desestruturação da identidade característica do drama. Maria Caxinauá viveu atenta à vida que tinha, sem prosperidade, não foi à toa que furtou, tomou para si, ou para a neta no futuro a herança que jamais construiu. Roubou um cofre da casa de Bataillon e que nunca foi encontrado.
Aristóteles elaborou sua noção de pôr em intriga (muthus) visando à representação (mimésis) eda ação. Pôr emintriga:

Maria Caxinauá, a índia (que) parecia velha como a floresta. A fresca maacu expõe seus braços à imaginação do olhar. As mulheres e os rapazes Caxinauás se transformaram em objetos do Seringal, pela força da tropa de guerra do Coronel (SAMUEL: 56-25).  As faces murchas indicavam que perdera todos os dentes, as sobrancelhas eram ralas. Mas aquela mulher não era uma velha! Subitamente se deixava ver! A face tem arrogância, desprezo, desafio, o olhar perigo, o veneno, pensou Ferreira, apertando o laço da gravata. Hostil, aquela existência silenciosa e animal concentrava-se em si mesma (SAMUEL:68).


Por esta primeira representante se percebeas vicissitudes da vida, vê-se que esta procura uma confirmação na configuração narrativa como afirmação no plano social e financeiro. Ela escondeu a fortuna furtada que só é encontrada para sobreviverem depois do extravio econômico.

Zilda: privilegiada ou lavadeira de roupas

A segundapersonagem feminina é Zilda, oprimida nos sentidos e sentimentos, é revelada pela violência do estupro - sentiu o gozo do prazer sexual com o Paxiúba, alegria antes nunca sentida em matrimônio.

Zilda nada dissera ao marido Laurie Costa seu único bem. Ela o amava, boníssimo. Mas não tivera filhos, não pudera. E mais: Nunca sentira nada com ele. Servia ao marido. Só mulher à-toa devia sentir orgasmo. Seria morta por Laurie se gemesse, se tivesse o Gozo. (SAMUEL, p:42) Perto de Paxiúba sentia-se nauseada, contraía a boca de enojo, de enjoo de coisa nojenta, gosmosa, de grossa goma como o látex, a boca se enchendo de cuspe, que cuspia quando o rapaz chegava nela (SAMUEL:44).

O autor (SAMUEL) admite, de bom grado, que essa identificação entre o pensamento histórico e o “juízo sinótico” deixa em aberto os problemas epistemológicos propriamente ditos, tais como a “questão de saber se ‘sínteses interpretativas’ podem ser logicamente comparadas, se há razões gerais de preferir uma à outra e se estas últimas constituem critérios da objetividade e da verdade histórica” (RICOEUR, 2005: 224).

Zilda, esposa do Laurie Costa, lavadeira das roupas volta galopante, no ódio, no nojo, no asco e escarnio gosmento. E a voz que ouviu, na revoada de sons de índio, dicção de um fenômeno conivente, curiosamente fino, de metal, [...] E Zilda sob aquela pressão se mexia dentro de si, incomodada, e em pânico, com asco e odioso horror, ao sentir-se tocada na hospitalar penetração da cabeça assassina e animalizada da voz, nativa do cumaru, fecundante terra – timbre autônomo e sibilante da serpente e não do agressivo mas do insistente, da demoníaca ousadia que dizia: ‘te conheço’. E dizia: ‘não te podes esconder de mim’ (SAMUEL: 40).


Esse aspecto, a história não é a escrita, mas a reescrita das histórias na literatura para dar ciência ao leitor. Em compensação, a entrega é seguir reflexivo, pois a linguagem encena a representação pictórica, como também entre a teoria do significado e a teoria da inferência que responde à situação do historiador em vias de re-narrar e de reescrever. A tarefa do autor não é acentuar os incidentes, mas reduzi-los e torná-los combustão para o leitor entrar no fogo da diegese.
A razão concerne ao funcionamento da significação das obras da literatura enquanto opostas às obras científicas, cujas significações se devem tomar literalmente. Em literatura, podem-se considerar muitas as vias de acesso para dizer sobre o que pode ser o texto, a escolha da ciência é que há de atender a leitura, é que dará a direção pomposa ao texto. Na Poética de Aristóteles,  oestagira assevera que “a metáfora é uma aplicação a uma coisa de nome que pertence a outra” (RICOEUR :59), nesta narrativa o que se procura demonstrar é o emaranhado semiótico, em que os signos referentes a pessoas   possam prevalecer sobre os objetos ou estados do mundo.
Desta forma, Zilda, semioticamente representa acontecimentos antagônicos no seringal. Primeiro, por ser ela a aspiração de todos os homens daquele local, pois “o marido fora o único seringueiro do Manixi que tinha podido trazer mulher” (SAMUEL: 41). Ela e o marido são privilegiados por estarem juntos em ambiente inóspito, desassistido, degradante e muitas vezes cruel, podendo compartilhar nos momentos de intimidade as alegrias – se é que as tinham – e tribulações que o casal saberia confidenciar um ao outro pela insegurança e desconfiança que reinava ali. Segundo, porque “ficou lavadeira pessoal do Palácio, das roupas brancas, exceto as lavadas em Lisboa, que aquelas águas, a escória das águas, águas mendigas, encardia a roupa” (SAMUEL: 41).
Observa-se que a função de Zilda era “ficar lavadeira” e não “ser lavadeira”, simbolicamente uma ocupação passageira que lhe garantiria a estada local, deixar as roupas limpas de sujeira, nódoas e manchas e de forma metonímica os desvios morais daquele grupo a quem servia. O verbete “lavadeira” no dicionário de símbolos expressa:

“Na Índia, a lavadeira é uma mulher de casta inferior. Por outro lado, o tantrismo fez da lavadeira (dombi) um símbolo importante quando associa o fato de ela pertencer a uma classe inferior à depravação sexual considerada como algo necessário – simbolicamente ou não – para a execução de certos ritos”. (CHEVALIER E GHEERBRANT, 2002:.537)

A personagem Zilda cumpre um papel muito próximo do proposto na Índia de “algo necessário [...] para certos ritos”, no romance de Samuel cabe a função de executar os ritos da limpeza física e espiritual, pois vê-se, no início de seu fazer, a descrição do narrador “Zilda lavava roupa branca e pura, iluminada, a espuma saindo e se indo assim de sabões e bolhas de vidro, se esparzindo na bordadura branca da superfície do rio espelhado de sol e na purificação religiosa da água” (SAMUEL: 39). Alguns elementos são simbólicos na “amante” Zilda, ela ficou lavadeira das roupas branca, a serem purificadas pelo reflexo do sol nas águas correntes regeneradoras do rio.

Diana: vingança e recompensade Caxinauá

A terceira personagem na composição do corpus desta análise é DianaDartigues que aparece próxima ao desfecho da narrativa de forma periférica, mas vinculada à personagem – Ribamar d’Aguirre de Souza -  que engendra o final do enredo e reverte a situação de penúria pela qual passa o núcleo maior do romance representado por Juca das Neves, dono do falido Armazém das Novidades. Ambos, Ribamar e Diana, são citados no mesmo capítulo do romance e aparecem na trama de forma inesperada como um “trunfo” do jogador vitorioso no jogo de cartas.
Diana tem o perfil traçado no capítulo “Dezenove: mistério”. De início, o narrador informa que não se conhecia sua origem e que alugara uma casa que tivera como proprietário anterior o Barão Rymkiewcz, diretor do Manaus Harbour.  Mais adiante, suas características físicas:
Alta, magra, esguia, elegante, Diana tinha uma pequena cabeça oval, sobre a qual escorriam os longos cabelos muito lisos, negros e brilhantes. A pele morena, os olhos amendoados, o pescoço, comprido e ereto, as mãos finas e longas. Não se podia dizer bonita, mas era uma mulher exótica. (SAMUEL: 143)

Ela era citada como uma das mulheres mais elegantes do Brasil, na coluna do Ibrahim Sued, do Rio de Janeiro. Magra, alta, elegante e sensual. Seu andar, sua maneira de jogar os braços para frente, o jeito de torcer o pescoço comprido, garça pernalta, gestos estudados, manequim francês. Diana não andava – desfilava. (SAMUEL:158)

Em outra passagem o narradorapresenta amaneira sofisticada de Diana se trajar: “Sempre com vestidos claros, ressaltando a tez morena, sempre com sapatos altos. Quase não usava joia, sempre na medida certa – pequeno broche, ou um único anel o dedo, um colar de pérolas. E só. Às vezes, uma fitinha no pescoço, com um rubi.” (SAMUEL: 158)
“As crônicas sociais alimentavam o mito – Diana Dartigues. [...] ‘Diana é divina’. (SAMUEL: 157). Percebe-se uma infinidade de demonstrações lisonjeiras para essa personagem que saída da obscuridade toma a forma de uma estrela do expoente social amazonense. Contudo, sua importância na trama diz respeito à Maria Caxinauá no episódio do furto de um cofre com libras esterlinas no início da trama.
Acerca do episódio mencionado a proprietária do cofre sempre a culpou: “Na época, ela [Caxinauá] foi amarrada a um formigueiro e quase morreu. Mas nada confessou” (SAMUEL: 67). O desvendamento do mistério se dá no penúltimo capítulo do romance no diálogo sobre questões políticas de Abraão Gadelha – candidato derrotado ao governo do Amazonas – e Benito Botelhoque escreveria matérias insidiosas sobre o governo que estaria por vir. Naquele momento, vê-se Diana Dartigues casada com Ribamar de Souza, eleito senador da República e suplente do mesmo. A essa altura, Ribamar era um bem sucedido empresário em meio a falidos comerciantes, donos de casas aviadoras, seringalistas e tantos outros que sofreram a derrocada do monopólio da borracha no Amazonas.
Na voz do narrador:
Era belo assistir ao casal Ribamar-Diana saindo daquele Buick branco com chofer. Ribamar, bem mais velho, tipo de empresário, sorrindo para todos. E Diana, de chapéu, leve sorrindo, digna, alta, magra, aristocrática, um pé, outro pé, jovem, braço levantados para frente, ou jogados para frente com displicência, quadris meio tortos, mas sem exagero.
[...]Mesmo os adversários respeitavam e temiam. (SAMUEL:158)

O casal tem sua história cruzada pela falência de Juca das Neves que acolheu “Um rapaz, vindo do interior. Um finório educado. Está morando lá, e trabalha agora no Armazém. Chama-se Ribamar”. (SAMUEL: 115). Aquele rapaz simplório se torna “amasio” de Diana e esta usa o dinheiro para que Ribamar realizasse o maior negócio durante a crise do Amazonas, transformar as casasda rua Frei José dos Inocentes em bordeis, além disso “com auxílio de Juca das Neves, modernizou o Armazém das Novidades, passando a representar vários produtos norte-americanos, como as máquinas de costura Singer” (SAMUEL: 143).
Conforme a semiologia da narrativa Diana representa a vingança e recompensa de Maria Caxinauá como forma de retribuição dos ultrajes sofridos pela índia enquanto ama de Zequinha Bataillon “A recompensa do serviço prestado e a vingança do prejuízo sofrido são as duas faces da atividade retribuidora”. (BREMOND: 132). Diana é neta de Zequinha Bataillon com Maria Caxinauáque sofreu castigos e busca vingança. Diana herdou de sua avó o cofre com as libras esterlinas, a recompensa pelos maus-tratos recebidos porCaxinauá quando era agregada no seringal.
Quanto ao papel de “amante”, objeto do estudo, Diana simboliza a última ponta de uma série de mulheres que se tornam amantes durante a extração do látex. A primeira, Maria Caxinauá foi para Zequinha “a segunda mãe e a primeira amante” (SAMUEL: 77).
A segunda personagem, Júlia, tem relação com um massacre empreendido pela etnia Numa. Em busca de capturá-los,saíram vários caçadores dentre eles João Beleza e encontraram uma mulher com uma espécie de embrulho que escondia entre as mãos; na corrida para esconder-se ela “caiu estendida no chão, morta pelo cano do próprio João Beleza” (SAMUEL: 84). Na queda, deixou rolar o embrulho que João Beleza descobriu ser uma criança e a chamou de Júlia.“João beleza tratava-a como filha. Anos mais tarde Júlia preparava-lhe a comida, limpava o barracão, criava os animais e os domesticava. Júlia crescia. E devia de ser extremada amante, pois João Beleza dormia sempre com ela”. (SAMUEL: 85). Adulta, Júlia mata João Beleza com veneno de rato. Depois do episódio ela desaparece na mata sem que ninguém mais a veja.Seria Júlia a própria Diana? Fica a indagação.
Por fim, Diana foi amante de Ribamar antes de se casar em cerimônia discreta. Dentre tantos personagens que não conseguem ter um bom desfecho, Diana é a que melhor corresponde a uma narrativa com final feliz, mesmo o narrador informando que o casal “alguns anos depois Ribamar de Souza e Diana Dartigues estavam separados”. (SAMUEL, p:163). De qualquer forma, no final da trama, a neta de Maria Caxinauá tem dinheiro e prestígio e, no contexto da semiótica, ela representa a vingança e a recompensa da primeira mulher do texto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A fertilização cruzada de textos, olhares e pontos de vista radicados numa acentuada dissolução, é parte das fronteiras estanques entre as outras artes, sem que, necessariamente, isso signifique perda da capacidade analítica ou de rigor crítico das mesmas.
O semiologista francês Claude Bremond, no artigo “A lógica dos possíveis narrativos”, põe a lume a seguinte proposição:
O estudo semiológico da narrativa pode ser dividido em dois setores: de um lado, a análise da técnica de narração; de outro lado, a pesquisa de leis que rejam o universo narrado. Estas leis mesmas pertencem a dois níveis de organização: a) eles refletem as constrições lógicas que toda série de acontecimentos ordenada sob a forma de narrativa deve respeitar sob pena de ininteligível; b) elas acrescentam a estas constrições, válidas para todas as narrativas, as convenções de seu universo particular, característico de uma cultura, de uma época, de um gênero literário, de um estilo de um narrador ou, no limite, apenas dessa narrativa mesma.(BREMOND, 2008:114)

O romance de Rogel Samuel segue as convenções demonstradas por Bremmond, corroborada pela condição do romancista ser um crítico literário também. Contudo, o fato de escrever sobre espaço, época e tema específicos regidos por idiossincrasias pouco conhecidos pelos leitores de um modo geral particulariza a narrativa, conserva as peculiaridadesantes descritas e fornece farto material para estudo desse gênero literário.
Obviamente que a noção de intertextualidade em Rogel Samuel é bem clara, mesmo assim, o texto é inovador pelas várias acepções e concepções política e cultural revelado na experiência do Amante das Amazonas vibrante de sexo, colonização e desamor à natureza. O estupro em Zilda é bem isso, invasão de privacidade. E o discurso necessita tanto da presença próxima de outros(leitores) como a fabricação do mundo (narrativa) para sempre estarmos em contato com ele.
            É por esse viés que Samuel envereda mostrando o caráter das mulheres, dá-lhes consciência crítica na construção das personagens Maria Caxinauá, Zilda e Diana. Elas traduzem na arte dramática da vida, a de ser mulher em Seringal no tempo de extração do látex na Amazônia. No texto, abordam-se as situações com algum humor e pouco romantismo, e esta é uma época em que o escritor já se assume na condição institucional da literatura na Amazônia, imbricado na sintonia com a consciência crítica e autocrítica que outros pares também o fizeram. A pertinência deste debate em torno das questões apresentadas se afigura irrefutável modernidade e, sobejamente, evidencia na literatura, a qualidade de produção criativa de um autor que se propõe ser visto pela ótica da Crítica Literária.
Fica, contudo, o enigma:  quem seria o “amante das amazonas”? o narrador que se despede dos leitores pedindo que não se esqueçam da história, por não mais estar vivo; ou o próprio romancista que chama a Amazônia de “lugar fantástico”que está no fim; ou,simplesmente, umtítulo chamativo para aguçar a curiosidade do leitor.

Referências Bibliográficas:

BRAIT, Beth. A Personagem. 9ª. ed. São Paulo: Contexto, 2017
BREMOND, Claude. A lógica dos possíveis narrativos. In BARTES, Roland [et.al.]. Análise estrutural da narrativa. Trad. Maria Zélia Barbosa Pinto. 5ª. ed. Petrópolis, RJ: Vozes. 2019.
CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. Trad. Vera da Costa e Silva [et al.]. 17ª. ed. José Olympio: Rio de Janeiro, 2002.
ECO, Umberto. Seis passeios pelo bosque da ficção. Trad. HildegardFeist. São Paulo: Companhia das Letras. 2ª. reimpressão, 1997.
_____________.Tratado geral de Semiótica. Trad. Antônio de Pádua Danesi e Gilson Cesar Cardoso de Souza. São Paulo: Perspectiva, 2003.
FOSTER, Edward Morgan. Aspectos do Romance. Org Oliver Stallybrass. Trad. Sérgio Alcides. São Paulo: Globo, 4ª. ed. 1 reimpressão, 2006.
RICOEUR, Paul, Teoria da interpretação. Trad. Artur Morão. Edições 70 LDA. Lisboa- Portugal, 1976.
_____________. Do texto a ação. Trad. Alcino Cartaxo e Maria José Sarabando. Editora RÉS, Porto- Portugal, 1986.
_____________. Tempo e narrativa (tomo I). Trad. Constança Marcondes Cesar – Campinas, SP: Papirus,1994.
_____________. O percurso do reconhecimento. Trad. Nicolás Nyimi Campanário. São Paulo: Edições Loyola, 2006.
SAMUEL, Rogel. O Amante das Amazonas. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 2005.

Simpósio Temático:
N°: 03
Título: Hermenêutica e Semiótica nas literaturas
Coordenadores: Dra. Francisca de Lourdes Souza Louro,
Dra. Auricléa Oliveira das Neves








[1] Pós-Modernismo palavra usada pela Doutora Ana Paula Arnaut, em seu livro,Post-Modernismo no Romance Português Contemporâneo: Fios de Ariadne - Máscaras de Proteu,diz que: quando uma obra aborda um conjunto de obras e de problemas em boa parte ainda em desenvolvimento.Ex: a subversão da representação, os efeitos de multi-perspectivismo, a pluralidade dos registros e das linguagens, a incorporação num discurso literário não raro fragmentário de discursos outros...Almedina, 2002.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

NUMAS: ONDE HÁ RESISTÊNCIA, HÁ PODER?

NUMAS: ONDE HÁ RESISTÊNCIA, HÁ PODER? 

Francisca de Lourdes Souza Louro (UEA) 

Resumo: O amante das Amazonas(2005),de Rogel Samuel, é um romance composto de vinte e três capítulos deforma bastante incomum, todos enumerados em modelo cardinal, porém, destaca-se na leitura de todo o textoque este autor, prima também pelo inusitado e o diferente. Escolheu-se o capítulo de número “Três – NUMAS” – por nos surpreendercom a beleza ímpar e com a forma particular de inventar a narrativa. Samuel articulaa obra com especial característica de linguagem barroca nos primeiroscapítulos e, na representação idílica da natureza, o arcadismo está visceralmente presente na paisagem por ele desenhada, para dar contorno de realidade.  Escolheu-se, para analisar o processo poético desta leitura a Hermenêutica Filosófica de Paul Ricoeur, por responder à necessidade, sentida, pelo advento da reflexão sobre a comunicação, história e a ação, de redefinir as condições do pensamento da alteridade.

Palavras-chave: Narrativa; Numa; Paraíso; Seringal; Amazônia.


INTRODUÇÃO


A verdade é que livros determinados emprestam
certas características a leitores
determinados (MANGUEL, p.30).


Sem narrativa não há acesso ao tempo, tal é o pressuposto de como encontrei coragem de ler e analisar o texto de Rogel Samuel, mesmo sabendo que ele poderá ser meu algoz se não estiver bem feito. Sim, ele já foi meu professor em algum tempo do passado, isso me dáa certeza de que ele me ensinou muitas coisas, inclusive, ler e saber o limite da interpretação que as palavras sugerem. O coração está transtornado de alegria e, para falar a verdade, sei o peso que o texto tem, e, por isso, ouso desafiar o autor a me perdoar caso vacile no desacerto do contexto. 
E, inicio com os questionamentos do narrador, ou são nossos? Como podem as palavras impactar o mundo do leitor? Ou é a Filosofia com arte que faz esse esforço dentro da linguagem de advogar e tomar posição importante e consequente? A carreira do texto subtrai-se ao horizonte finito vivido pelo seu autor. Hoje, porém, o que o texto significa interessa agora mais do que o autor quis dizer quando o escreveu. Literatura é um mundo de palavras, melhor, usarei o narrador que assevera “a poesia apronta um mundo, a prosa outro” (SAMUEL,2005, p.32), é este “outro mundo”,humano,criado na prosa, que os Numas vão ressurgir para antagonizar o outro invasor, Pierre Batallion. Sim, invasores, os Numas também chegaram de longe e se impuseram na severidade de ações dominantes de arte e terror para a sobrevivência.“Dez anos depois, voltando os Numas das montanhas peruana, o quadro mudou molecularmente” (SAMUEL, 2005,p. 25). O narrador (Ribamar de Sousa) é um adolescente viajante que saiu de Pernambuco até o Amazonas buscando refúgio e trabalho. A viagem é um diário de bordo, vai mapeando os horizontes encontrados, nominando os lugares e as pessoas. “Confesso (que todo este livro é a confissão de minha vida) uma família fodida e quebrada, assim que depois vi, me deixava sozinho, comigo, no horror de Deus” (SAMUEL,2005, p.14).
Embora o romance tenha destruído o mito e a epopeia, mas, fala-se nos nossos dias do retorno do romance ao mito. Esse retorno, cuja importância é capital para a nossa civilização, não entra no âmbito da nossa investigação, nem o antigo “Romantismo” alencariano, mas trago Francisco Gomes de Amorim, com a obra Os selvagens (1875)que, “quase”, na mesma perspectiva, trouxe, também, a questão da identidade dos índios na Amazônia. “É necessário re-descobrir a influência dos relatos na configuração de identidades e por meio deles o conjunto de laços e raízes que condicionam a possibilidade da humanidade racionalidade” (PORTOCARRERO, 2005, p.59).

... os tapajós traziam presentes na memória os motivosda sua expatriação, e a necessidade obrigou-os a aproveitar a lição recebida dos conquistadores do Peru. Expulsos, roubados e tratados cruelmente, expulsaram, roubaram e aniquilaram por sua vez os habitantes das regiões em que iam penetrando...Senhores da duas margens do rio, que deles tomou então o nome de Tapajós que tomaram emprestado o nome do rio que fugiram do atroz colonizador.Das duas raças tapajós e tupis, misturadas desse modo, pretende descender a maior parte dos índios, que atualmente habitam a vasta região compreendida entre o Madeira, o Juruena e o Tapajós; porém, os mundurucus deste último rio julgam ter mais do que ninguém indisputável direito a tão ilustre origem(AMORIM, 2004, p. 21-22).


Este aspecto teórico da literatura vai mais diretamente se inspirar na sociologia e na geografia do texto que vê estas particularidades do romance, e esse processo de mutação não dá uma forma conclusa como os outros gêneros literários. Para Ricoeur (1995),a “Orientação no mundodescreve que o laborioso nascimento do existente humano está nos limites dos saberes positivo”.Ainda, segundo Ricoeur,

A noção de trazer a experiência é a condição ontológica da referência, uma condição refletida dentro da linguagem como um postulado que não tem justificação imanente; o postulado segundo o qual pressupomos a existência de coisas singulares que identificamos (RICOEUR, 1976, p. 32).


“Onde há poder, ele se exerce? Para mim elas estavam uma na outra, se abraçando dentro d’água por baixo o que era tão fácil as mãozinhas tal como eu enxergava na minha perspectiva sexualizada. Reais, humanamente reais, lá, do outro lado - as primeiras fêmeas Numas que apareceram em todo o mundo, belas como o sol sobre a risca da Terra.E eu sufoquei de emoção. E fui largando o anzol. E fui empurrado, abaixado chulo sobre a terra, e protegido pelo capão de mato. Era o êxtase! (SAMUEL, 2005, p.32).
No textoTeoria e política da ironia de Linda Hutcheon (2000,p.16), encontrei que [...] “a ironia possui uma aresta avaliadora e consegue provocar respostas emocionais dos que a “pegam””, nosso problema não é pegar e tratar da ironia, no texto, mas perceber que poderia o narrador induzir o leitor a esse viés, e vemos, nesta cena do capitulo Três, uma força com enorme significado verbal e estrutural no desenvolvimento da civilização deste espaço amazônico.
Sem exagero, pode-se dizer que nesta obra a paisagem apresentada é discutível, pelos olhos do narrador, um de fora, um invasor do espaço reservado aos Numas, índios “arredios, móveis, vigilantes, foragidos dos Andes, empurrados por perigoso inverno, permaneceram perdidos e livres, animais persistentes, se impuseram como resistência. Não e não. Reagiram ao pacto, ao toque, ao contato”(SAMUEL,2005,p.25). 
“Onde há resistência, há poder?”(SAMUEL,2005, p.25). Sim, havia o poder de muitos e, entre estes,“Pierre Bataillon que chegou em 1876, estabeleceu seu domínio sobre as terras dos apacificados Caxinauás. Aquela era uma das inúmeras aldeias Caxinauás da Amazônia. Pierre impôs a paz, a ordem. Destruiu a cultura Caxinauá pelo progresso, novo deus que era, e a quem se submeteram sem reclamos, quase alegres” (SAMUEL,2005, p.25), bem antes de os Numas, pois, “somente dez anos depois que esses voltando das montanhas peruanas, o quadro mudou molecularmente”(p.25). Então, neste capítulo da obra de Samuel, a abordagem gira em torno dessas duas naturezas, Numas vistos como terríveis e dominadores, e os Caxinauás que foram destruídos em sua cultura ao “submeteram-se sem reclamos, quase alegres” à cultura do invasor.  Duas tribos indígenas, os Numas, estão representados pelas duas crianças tomando banho no rio:

São duas minúsculas meninas, nuas, no outro lado do rio, entre as árvores. Na outra margem do Igarapé do Inferno estão, vejo-as, entre as colunas das árvores, Vêm da curva descendente que sai do verde-escuro para o verde-cré até a fímbria da saia do aço da fria lâmina do rio. Como nessa matéria nada é absoluto, comece afirmando que as imagens dos seus lábios são, elas mesmas, somente belas. Pois o que faz a beleza é a beleza de sua aparição, naquele momento, da realização, lá, no inesperado, e surpresa. Quê! E elas vieram de lá. Estão na minha frente. São duas meninas. Duas índias Numas, inconfundivelmente Numas. Desafio. Indução. Paixão e banho clássico. Estão lá, em movimento lento. Silenciosíssimas. Que uma é menina. Outra, adolescente. Perfumam o ar em que se movem. Balanço. As pernas longas. Descendo esguias, virgens, na arqueologia da margem, o delicado encanto, e cuidado. Sim, e sim. Agora – e que sorriso se desenha nos seus olhos...  (SAMUEL, 2005, p.22).


O discurso refere-se ao seu locutor ao mesmo tempo em que se refere ao mundo. Esta correlação não é fortuita, porque é sempre o locutor que ao falar, se refere ao mundo que o cerca. É o discurso da ação - As meninas sendo observadas de longe, do esconderijo pelo viés da curiosidade e surpresa do narrador exteriorizando o intencional. A escrita toma o lugar da fala, é como se tomasse uma espécie de atalho entre a significação do discurso e o meio material, é a literatura no sentido original da palavra, o destino do discurso é confiado à littera, não a vox.  Este narrador é um personagem rico de contradições, rebelde e extrovertido, cínico e, ao mesmo tempo, delicado e sentimental, quando reverberana visão idílica sobre as meninas e a natureza. 
São duas meninas. Duas índias Numas, inconfundivelmente Numas. O uso das repetidas palavras “duas” e “Numas”, corre o risco de o narrador dar valor de significação exagerada a ambas as palavras, uma hemorragia de sentidos para representar a historiografia dos Numas. Sem contar a musicalidade da linguagem, os jogos aliterativos constituídos para oferecer sugestão ao universo profundo que geram sentidos ao leitor. Ora, isto exige que se encare de modo sério, “a linguagem como verdadeiro fio condutor de um tipo de pensar explorando dimensão semântica de toda Hermenêutica que procura caminhar entre a epistemologia e a ontologia” (SILVA, 1992, p.20).
Pois o que faz a beleza é a beleza de sua aparição, naquele momento, da realização, lá, no inesperado, e surpresa. Digo que é sempre bom captar uma forma em seu verdadeiro ponto de realização, melhor dizendo, um que nos confira uma orientação.  E eis que surge: a beleza é a beleza, mas, o que é a beleza? Se pensarmos em Estética, a beleza corresponde ao sentido e a sua forma. Exatamente como o narrador determina ao usar o verbo “fazer e o verbo ser”. Fui buscar o sempre Hênio Tavares, com sua Teoria Literária que assevera:

Na beleza residem dois elementos: o objetivo, que se fundamenta na coisa, e o subjetivo, ligado diretamente ao sujeito. Na coisa, objeto da elaboração artística, não há malícia, maldade, moralidade ou imoralidade, quando realmente ela reponta como genuína obra de arte. È no sujeito que tais sentimentos se agasalham (TAVARES, 1996, p. 11). 


Mas, o mesmo Hênio Tavares explica ainda pelo olhar do poeta Olavo Bilac, no texto A beleza e a graça, ao trazer Platão que assegura ser a beleza o esplendor da Verdade... e saiu do geral e foi ao absoluto e cuidou de chegar à beleza humana, mais restritamente“a beleza feminina, que é, e sempre foi, e sempre há de ser a inspiração, a tentação, a perdição, a salvação, o bem, o mal, a virtude, o vício, o encanto e o desespero dos homens. A beleza feminina existe e tem uma influência soberana” (TAVARES,1996, p.14).“Na obra literária está a verdade da ideologia: Elanos remete às fontes criadoras do conotado no texto e reconduz as elaborações linguísticas, psicológicas e sociais às suas fontes, isto é, à poesia como verdade do homem. A linguagem é a relação de possibilidade de estados de coisas”(SAMUEL, 1981, p.68).

Os Numas se submetiam a si mesmos, refugiavam-se em si... Eles não eram aparência, mas imanência, e quem viajou pela Amazônia sabe do que estou falando, na ambiguidade onde tudo é incerteza e não-saber herméticos, multiplicados e fortes... Seres frios, enevoados por lendas vindas das montanhas, deuses que descessem para nos justiçar das noturnas culpas. Pois era como se fossem olhos fixos em toda a parte, de tal modo a gente se sentia vigiado por aquelas estranhas criaturas. Ás vezes, deixavam entrever-se (SAMUEL, 2005,p.26-27).


Aqui, pode-se explorar a questão da ambiguidade que a frase comporta: “Eles não eram aparência, mas imanência”. A questão dos Numas, nesta obra, é a não aparência por não terem existência. Essa gente sem aparência é pelo fato de nunca terem existido. Daí o narrador afirmar que é imanência, pelo caráter de novidadeque tem de si próprio neste processo de criação, que “deslancha como experiência rara, da exceção e vem de longa habitação de um território, de um domínio específico” (KASTRUP, 2007,p.61). Daí o narrador completar com a ideia de que: quem viajou pela Amazônia sabe do que estou falando, na ambiguidade onde tudo é incerteza e não-saber herméticos, multiplicados e fortes. 
Na medida em que o inventor realiza sua obra, ele abre mão de muitas coisas que inicialmente desejaria obter, ele renuncia a ser o piloto do processo de invenção. Aí entra o elemento de imprevisibilidade do processo. Na invenção, as coisas não vão por si. Há sentimento de dificuldade, incômodo, obstáculos. O processo de criação pode comportar um grande número de vaivéns, tal qual foi dito pelo próprio autor, foram dez anos de construção, de desmanchar e construir até ver a obra concretizada. A busca é ativa e muitas vezes, dura, envolvendo tensão e demandando esforço. Por outro lado, a criação não é apenas esforço, porque ela inclui o encontro. O encontro é o refluxo da busca, pois nele somos receptivos, “escritor/leitor”. Nesse encontro tem sempre uma margem de inesperado, um elemento de imprevisibilidade e de surpresa (KASTRUP,2007, p.66).Pois era como se fossem olhos fixos em toda a parte, de tal modo a gente se sentia vigiado por aquelas estranhas criaturas.  Com esse exemplo percebe-se a performativa que o autor dá ao texto. Puro desafio de adaptação intercultural para interagir o significado social existentes nas narrativas expressas pelos povos ribeirinhos da Amazônia.

Nas transferências do modo de contar para “performatizar” a narrativa, as diferenças de filosofia, religião, cultural nacional, gênero ou raça podem criar lacunas que necessitam ser preenchidas por considerações dramatúrgicas que podem ser preenchidas por considerações dramatúrgicas que podem ser tanto cinéticas e físicas quanto linguísticas (HUTCHEON, 2013, p.201).


“Às vezes”, deixavam entrever-se. Eles estão lá, sem estar. Ágil nomadia perigosa. São homens nus, de enormes falos escuros... ou só vento, integrados nas folhas das árvores...belos, os olhos amendoados e escuros, grossos sexos expostos, corpos de criança graúda. De certa forma, delicados. Mas puros fantasmas.
O advérbio é a expressãomodificadora que por si só denota uma circunstância (aqui de possibilidade? Ou circunstancial?) está bem colocado, exatamente nas duas Numas que sedeixaram ver por Ribamar que tivesse a feliz ideia de como era essa civilização. E o narrador abriga esforços no interesse de fazer o leitor acreditar na existência do inexistente Numa. O esforço é sabedoria do tipo platônico, está temperada, sem dúvida, por uma sabedoria de tipo mundano, cética de dogmatismos, ciente do prazer, melancolicamente ligada às ideias utópicas, mas que deixa o leitor em prazer de saber, visualizar a esfinge edipiana. O temperamento, o estilo do narrador/autor intelectual performático, ludibria o leitor com temperança, sensibilidade e graça, e a agudeza é própria do amazônida com talento extraído da energia da selva, onde encontrou consolo nos vários verdes, do matiz ao cré, uma aquarela de saberes, onde avalia o mundo obtendo prazer e amor.
Eu deveria estar preparada para esta cena, o fascínio me envolve e assimilo o êxtase do narrador em verbalizar as lembranças do passado, das primeiras horas da descoberta sexual. Neste fragmento de texto, acomodei-me na arquibancada para assistir ao espetáculo. Julguei que estivesse em Roma para assistir Ovídio. n’Ars Amatoria. “Seria tudo isso, é certo: assim o haviam cantado, pelo menos, os poetas, muitos deles do seu tempo, como Propércio, Tibulo, até mesmo, Virgílio, e outros antes dele, como Catulo” (ASCENSO, p.9). Muitos cantaram o amor, o sexo, as armas, a fúria em Aquiles, e, em Samuel, a bolinação amorosa de duas índias dentro d’água assistida por um adolescente que transmite essa informação como verossímil e funciona como um índex de ideologia, valores e convenções através do qual ordenamos a experiência e predicamos a atividade. Essa história viaja e chama atenção pelo diferente processo de transformação que tem o texto sobre as naturezas humanas, um princípio de moral contra o obscurantismo de conceitos como liberdade, igualdade e amor universal que enche de fascínio o leitor.

 O rio está cheio de óleos negros. Melpomene num plinto de coluna de terraço. Naquele movimento de mínima precipitação, qualquer erro é fulminante. Ato terminal. Calor, prazer. O morno rio ressurge, como látex do sangue aquecido. Curvas. Finas. Escreção brusca, violenta, do humor que escorre. Espuma de sangue. A vista cerrada não as consigo ver. Nuvens brancas, primeiro no corpo todo. Nas partes sólidas, estreitas. Elas não me veem. Não me sabem. Só desaparecem. Uma na outra. Se acariciam. Se tocam. Se introduzem no ar (SAMUEL, 2005,p. 22-23). 


Ribamar de Sousa foi o amante das duas Amazonas, ele semantémescondido entre as árvores, assiste agoniado ao banho das duas Numas. A vista cerrada não as consigo ver. Nuvens brancas, primeiro no corpo todo. Nas partes sólidas, estreitas. Elas não me veem. Não me sabem. Este estudo caberia no argumento da ironia por ser um processo comunicativo. Porém, a cena é de cinema, e recorro à ekfrases da narrativa por reservar à literatura uma profunda reflexão, que se deve a uma tentativa constante de introspecção, de saber, de descobrir a força emocional, ainda potente liberada por essas memórias que tornamas arestas da vida tentadora tanto para interpretadores. Existem, neste fragmento, as circunstâncias que cercam o banho das duas Numas, a interpretadora deixa que a imaginação de sexualidade seja possível e plausível. “Uma na outra. Se acariciam. Se tocam. Se introduzem no ar”. 
Outra beleza é perceber o sagaz autor mostrar essa vinheta; Naquele movimento de mínima precipitação, qualquer erro é fulminante. Ato terminal. Calor, prazer. O morno rio ressurge, como látex do sangue aquecido. Esta liberdade formal propicia, com extrema facilidade, diversas modulações, no que respeita às interferências da lírica e narrativa, bem como aos diversos graus de presença de cada um desse modo literário. 
Assim sendo, liberta do constrangimento das palavras resta dizer que elas não são hostis, muito pelo contrário, é neste capitulo que está a simbiose do romance, é onde se reconhece o grande esforço do autor de dar veracidade aos Numas, que nunca existiram, mas que este pequeno quadro pintado com as tintas da sexualidade faz o leitor sonhar com poesia, quando se vê a natureza humana se revela divertidamente impregnando o mundo de tempestade de desejos. A obra inteira oscila em sons arrastados de disparos de sêmen, de terçados, de tiros, de rasteiro das histórias que de fato ocorreram, em algum dia na Amazônia.
O rio está cheio de óleos negros. Melpomene num plinto de coluna de terraço.Esta frase confirma a sexualidade e erotismo na literatura de Samuel. A musa Melpomene de pé em seu pedestal, (plinto)não está por acaso na narrativa, é filha de Oceano e Tétis, recebeu a função de cantar a tragédia, apesar de sua alegria. Assim, esta narrativa canta a tragédia da época da extração do Látex, quando muitos nordestinos tiveram fome e desejo de enriquecimento e perecerão nas águas do grande rio, e perderam a vida na malária, ou na floresta.  
Samuel manifesta uma preocupada atenção às circunstâncias, situando-se num plano de criação totalmente contrário ao que outros autores fizeram, condenando à Amazônia ao infernismo. Mesmo assim, confere à obra deste escritor, uma grande capacidade de imersão na “vida”, no tempo histórico e nas suas desencantadas circunstâncias em que está estruturada a narrativa. Por isso, se pode dizer “se quisermos a cicatriz pungente de um tempo que é o nosso eda cidade e perfídias que nos matam, é  a Literatura em nosso escritores, os desta safra, que fazem relatos fotográficos de um tempo que onera o passado, mas engrandece a existência de todos que escreveram e teremos de recorrer para conhecer. Não como um bálsamo ou enquanto filosofia de salão, antes como uma ferida que sentimos próxima. “Mas a vida é um caminho que de repente se bifurca... E certo também que voltavam gigantescos e ferozes, movendo-se sempre nas igualmente imaginárias áreas do Rio Pique Yaco, do Rio Toro, e do além mais.Mas nunca apareciam...” (SAMUEL,2005, p.31).
Essa verdade de caminhos bifurcados é de longa data uma verdade absoluta, mas serve para o narrador reafirmar sua desorientação, lamentar de tempos em tempos, pode ser aflição por não ter compreendido os fatos ou o modo correto de agir. A sabedoria dos romances contemporâneos tem mais probabilidade de ser retrospectivo, este entra no estilo de romance “Histórico” como Marinho (1999) entende: “Na impossibilidade de repetir a História, tal como os historiadores a concebem, os romancistas arrogam-se no direito de narrar prioritariamente na convicção de que o leitor interessam sobretudo os pequenos incidentes da vida familiar”pela tonalidade íntima com o passado redesenhado. Adorno assevera que “a arte não deve reduzir-se à polaridade indiscutível do mimético e do construtivo como uma fórmula invariante de construção, não de correção ou certeza objetivante da expressão, deve acomodar-se sem planificação aos impulsos do mimético, aí está a superioridade sobre a construção”(ADORNO, 1970,p.58). 
Após essa breve análise do romance de Rogel Samuel, faz-se necessário comentar sobre esse poeta, escritor, webjornalista, doutor em Letras, professor aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro.Sócio Correspondente da Academia Amazonense de Letras.
Publicou as seguintes obras:
Crítica da Escrita. Edição do autor,1981.
Manual de Teoria Literária. 14. ed. - Petrópolis: Vozes. 
Literatura Básica. 3 vol.  Petrópolis: Vozes, 1985.
O que é Teolit? São Paulo: Marco Zero, 1986.
120 Poemas. 1991 (Além de centenas de artigos em revistas, jornais, vários romances publicados on-line).
 Novo manual de teoria literária. 6. ed. - Petrópolis: Vozes, 2011. 
 O amante das amazonas. 2. ed. - Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 2005.
 Fios de luz, aromas vivos. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2012.
 Teatro Amazonas. Manaus: Edua, 2012.
  Modernas teorias literárias. Teresina: Editora Nova Aliança, 2014. 

Rogel Samuel tem seu nome registrado em verbete de Enciclopédia, como na Enciclopédia de Literatura Brasileira, de Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa (Editora MEC); seus poemas já foram incluídos na antologia de Anísio Mello, Lira Amazônica, publicada em São Paulo, em 1965. O Estado do Pará, na pessoa de Carlos Rocque, um diligente divulgador da literatura da grande região amazônica, também o destacou entre os principais poetas do Amazonas, em 1968, na Grande Enciclopédia da Amazônia (publicada em Belém, capital do Estado do Pará). Assis Brasil o incluiu na antologia A poesia amazonenseno século XX (publicada pela editora Imago do Rio de Janeiro em 1998). 
O romance O amante das Amazonas publicado, em 2005,foi objeto de dissertação de mestrado da professora paraense Lucilene Gomes de Lima. Em seguida,foi analisado por Neuza Machado, nos livrosO fogo da labareda da serpente sobre O amante das Amazonas, de Rogel Samuel  e Esplendor e decadência do império amazônico: o olhar interativo do narrador da pós-modernidade .Disponíveis apenas na internet. Assim sendo, a professora e críticaNeuza Machado é maior intérprete e divulgadora da obra de Rogel Samuel.Além das análises realizadas citadas anteriormente, o romance O amante das Amazonas é objeto de duas pesquisas na Universidade do Estado do Amazonas e de uma de tese doutorado em andamento na Universidade de Brasília.


BREVES CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considero este romance uma autobiografia da Amazônia, bem documentada e arranjada nos cenários de tristes casos.
O amante das Amazonas é uma obra relativamente curta, com 164 páginas de puro prazer, igualmente refinado e furtivo, assombrado. O cerne moral da obra é refigurar a época da borracha, porém, Rogel não se afogou na obediência de transformar o texto em uma tragédia do espaço, e sim revigora com prodígio uma época fracassada pelos ambiciosos especuladores da goma elástica, como ele diz: como o caráter de muitos que aqui estiveram. Traz um bocado de vidas afogadas no processo de extração, a histórica riqueza de um tempo, a construção do Palácio de Ernest Scholtz, os mortos na construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, em 1908, em 1908 a fundação da mais antiga universidade do Brasil, em Manaus. A construção do Teatro Amazonas, em 1896 – a mais cara e inútil obra faraônica da História do Brasil, milionária e importada. E a presença feminina na figura de Maria Caxinauá, foi acolhida como ama e depois subiu de posto, passou a ser a amante da cria. E, sempre a referência do Igarapé do Inferno que representa a braveza dos Numas. Enfim, A história do Amazonas é um acúmulo de loucuras e corruptas aventuras.


REFERÊNCIAS

AMORIM, Francisco Gomes de.  Os selvagens. 2 ed. Revista Manaus:  Editora Valer/ Governo do estado do Amazonas, 2004.
 CARLOS, Ascenso André. Ars Amatoria. Lisboa: Livros Cotovia, 2006.
DERRIDA, Jacques. Pensar a desconstrução. Trad. Evandro Nascimento. [Org.]. Trad, Evandro Nascimento...[et al.]. – São Paulo: Estação Liberdade, 2005, 352p.
GRIMAL, Pierre. Dicionário da mitologia grega e romana. Coord. Victor Jabouille. DIFEL Difusão Cultural, S.A. Lisboa-Portugal, 2009. 
HUTCHEON, Linda. Teoria Política da Ironia. Tradução de Julio Jeha – Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2000.
HUTCHEON, Linda. Uma teoria da adaptação. Trad. André Cechinel.2 ed. – Florianópolis : ed. da UFSC, 2013.
KASTRUP, Virgínia, 2007. 
LECERT, Eric; BORBA, Siomara; KOHAN, Walter.[Orgs.]. Imagens da imanência: escritos em memória de H. Bergson. Belo Horizonte: Autêntica, 2007, p. 61.
MARINHO, Maria de Fátima. O romance histórico em Portugal.Coimbra: Campo das Letras Editores, 1999.
PORTOCARRERO, Maria Luísa. Horizontes da Hermenêutica em Paul Ricoeur. Coimbra: Ariadne editora, 2005. 
RICOEUR, Paul. Teoria da Interpretação: O discurso e o excesso de significação. Lisboa: Edições 70. 
RICOEUR, Paul. Em torno ao Político. Trad. Marcelo Perine Edições Loyola, São Paulo, Brasil, 1995.
SAMUEL, Rogel. Crítica da escrita. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica Editora LTDA, 1980.
SAMUEL, Rogel. O amante das Amazonas. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 2005. 
SILVA, Maria Luísa Portocarrero Ferreira da. A Hermenêutica do conflito em Paul Ricoeur. Coimbra: Edição: Livraria Minerva, 1992.